domingo, 15 de julho de 2012

A ESPERANÇA É VERDE


                                                                      

                                                                 

CHICO DE ASSIS 

A esperança voga
e vive no fenecer
do tempo.

Tremula generosa
no olhar entrecruzado
em despedida
amor
tecendo o gesto
em direção à pílula fatal
mal digerida.

A esperança é feto.
Psicografa a melodia
determinação da luz
fulgurante
que nos imobiliza
e nos conduz.
Campos e relvas
virgens relembram
um tempo que se foi
para sempre
e parece não ter (s)ido
nunca.

Ah, o tempo de outrora
o tempo de contar
e cantar
a aventura inédita
a festa nos olhos
infantis
abertura pueril da
porta-fresta
onde penetra a morte.

Ah, o tempo do presente
assobiando o som
que nos perpassa o tímpano
e nos produz a dor
ancestral do amor
perdido
reencontrado
em chuva de dobrados
a orientar as mãos
os lábios velados
pelo riso
do renascimento.

Ah, o tempo do futuro
orquestração de címbalos
azuis
concertos musicais
de flautas
reencontro da cruz
em corrente magnética
com a poesia
que se esvai
no verso moribundo.
É preciso sim resistir:
por sobre os campos
os mares
as ruas
as calçadas
procurar a nota mágica
vinda de outras flautas
outros tempos
redescobrindo o nada
vazio mortal do salto
para a liberdade
azul
ninho da esperança
verde.

Agora as línguas
felinas
percorrem grutas
femininas
cavernas ambíguas
do ódio
laboratórios musicais
da solidão
que se eterniza.


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