terça-feira, 14 de agosto de 2012

UTOPIA ABATIDA


Mas me interessa a catarse
o caudal de humanidade
contido em cada passo
em cada ser vivente
ainda que distante
o horizonte divisado
ainda que inexista
o vivencial configurado
ainda que esconda
a face da discórdia
e se alimente da inveja
ou do ódio represado.

Ainda assim me envolve
e me deixa a circular
em todos os quadrantes
buscando atento o fio condutor
na infinidade de fios desencontrados
deixados em viagens
que não vão terminar
porque sequer começaram.

Eu me envolvo e me cruzo
com o gajo português
cuja rispidez disfarça
o peito lusitano
a explodir de poesia e lirismo
ou com o hermano espanhol
cuja descontração anuncia
a alegria do combate
que hoje explode nas ruas
em desafios musicais
como antes resplandecia
em pugnas civis.
Ah, eu enfrento o circunspecto francês
cuja desatenção se confunde com arrogância
mas é na verdade orgulho
pela pátria mãe da cultura
e de todas as liberdades.

Sim, eu me envolvo e me emociono
e me perco no manancial de lágrimas
que regam a semente internacionalista
de uma utopia abatida
pela face perversa
do mundo globalizado
de onde se retirou o sonho
e se aniquilou o homem.




(Em 2007, a caminho de Madrid, ainda no aeroporto de Porto, a 23 de Abril, Dia Mundial do Livro)